Livro adotado pelo Vitória trata da igualdade de direitos e respeito à diferença

Ana Carolina Melo, diretora do Colégio Vitória
Maurício Maron

Quando queremos dizer que estamos nos sentindo mal, desconfortáveis, usamos a metáfora do sapato apertado: ‘todo mundo sabe onde o calo lhe aperta’. “Não queremos ser a escola que cause dor a nossos alunos, queremos ser a escola que ensina e constrói o conhecimento e os saberes de forma amorosa”, assegura a diretora do Colégio Vitória, Ana Carolina Melo.

Então, como tornar o espaço escolar um lugar confortável e que privilegie o aprendizado consciente? A resposta passa pelo reconhecimento de que os alunos precisam estar envolvidos com a própria construção do conhecimento, participar das discussões e saber que o debate em sala reflete a realidade da vida. Eles aprendem, por exemplo, que a empatia é bela e educa nas famílias e na escola; o radicalismo é feio e ofende, por isso não pode encontrar espaço na escola ou em casa. Existe espaço para todos os pensamentos e escolhas, afirmam especialistas. 

Por isso, a escola convida você a conhecer o livro que traz o título desafiador e instigante “Sejamos todos feministas”, da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, para tirar suas próprias conclusões, a partir do seu conteúdo, e entender porque foi escolhido para ser o paradidático do 9º. ano, com base no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), do governo, para obras pedagógicas e literárias. 

“Para mantermos nossa relação de confiança, queremos tranquilizar a todos que a escola jamais traria um livro didático ou paradidático que não fosse adequado ao trabalho do ano”, completa a diretora, esclarecendo a proposta do livro em vídeo para os pais do 9º ano. 

A educadora Camila Pereira, formada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) doutoranda em Literatura pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), professora do IFBaiano no campus Santa Inês, defende que o trabalho com obras de autores estrangeiros premiados é importante e capaz de promover uma educação intercultural para que os jovens relacionem suas culturas com a dos outros, “porque é assim que a gente cresce”.

Uma capa é convite a abrir a obra 

Quando pegamos um livro e nos sentimos atraídos ou provocados pela proposta expressa em sua capa, o que fazemos? Deduzimos o seu conteúdo somente pelo que está em seu exterior, com julgamentos a priori, ou, acertadamente, lemos a obra para entender a sua mensagem?  Parece-nos mais inteligente avaliar a mensagem depois de conhecê-la, não?

A nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie é uma das principais escritoras contemporâneas, reconhecida mundialmente, e o livro “Sejamos todos feministas” propõe a reflexão sobre o feminismo e o machismo, o que significa ser mulher nos dias de hoje. Objetiva fazer do mundo um lugar mais justo, em que homens e mulheres sejam mais felizes e tenham direitos iguais. A partir de sua própria experiência pessoal, a escritora esclarece a importância de que as crianças, meninas e meninos, sejam criadas de uma maneira mais inclusiva e consciente sobre o respeito que homens e mulheres devem exercitar entre si. 

O livro trata, também, da questão da violência contra a mulher, orientando aos pais de meninas sobre como proteger suas filhas, reconhecendo o agressor, e aos pais de meninos para que sejam emocionalmente preparados para entender o papel de todos os integrantes de uma família, que devem somar esforços para prover e cuidar, juntos, do núcleo familiar. 

Para o professor Cláudio Braga, da Universidade de Brasília, especialista na escritora nigeriana, este livro é uma importante estratégia educacional a ser adotada pelas escolas, para que se discuta a igualdade entre os sexos no sentido do respeito. “É um livro que vem sendo adotado em várias partes do mundo”, assegura.

A psicóloga Renata Melo, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), licenciada em Letras, com mestrado em Linguagens e Representações pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), parabenizou o Vitória pela decisão acertada de escolher um livro tão atual e que será usado em sala, de forma embasada, com apoio pedagógico. 

“Como professora do Ensino Fundamental e Médio, percebo o quanto a discussão sobre o respeito às diferenças é importante, pelos níveis alarmantes de feminicídios. As jovens precisam construir relações saudáveis e os jovens adolescentes devem ser orientados sobre a masculinidade tóxica, aquela que exalta valores como a falta de expressão de sentimentos pelos homens, o uso da força, o que pode causar consequências emocionais graves levando até ao aumento da taxa de suicídio entre jovens”, explica.  A professora também afirma que trabalhar com livro de uma mulher negra é algo bastante significativo, porque jovens negros passam a perceber o quanto são capazes e os jovens não negros ficam preparados para discutir o tema.